Vargas Llosa discute a influência da internet na capacidade humana de memorização

Minha primeira viagem com passaporte foi à Florida, em 1996: associei a compra de eletrônicos de Miami aos parques de Orlando.

E talvez seja a viagem menos lembrada: a diversão dos parques produz uma alegria fugaz, esquecível, útil apenas a curtíssimo prazo.

O motivo é que a memória humana é mais eficiente quando a pessoa está bem concentrada, atenta, e recebe a informação de uma forma lenta e organizada.

Sabedores disso, pedagogos sempre indicam a leitura de livros como uma forma de incentivar a capacidade de elaborar raciocínios lógicos e objetivos, de redigir textos e de travar conversas ou conferências mais objetivas.

E também para estimular a capacidade de memorização que, como há muito se sabe, é mais adquirida do que herdada.

Neste sentido, já começou a discussão sobre as consequências negativas que a facilidade de pesquisas na internet pode trazer.

Mario Vargas Llosa, o último literato de língua espanhola a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, trabalhou a questão no artigo A internet e o déficit de atenção, publicado n’O Estado de São Paulo, edição de 14/08/11.

(A base do seu texto foi o livro The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains, de 2011, ainda não editado em língua portuguesa; o Estadão traduziu o título como “Superficiais: O Que a Internet está fazendo com Nossas Mentes?”.)

Sobre a contribuição da internet, diz Llosa: “Mas tudo isso tem um preço e, em última instância, significará uma transformação tão grande em nossa vida cultural e na maneira de operar do cérebro humano quanto a descoberta da imprensa por Gutenberg no século 15, que generalizou a leitura de livros, até então exclusiva de uma minoria insignificante de clérigos, intelectuais e aristocratas.”.

Adiante, analisa vantagens e desvantagens: “quem poderia negar que é um avanço quase milagroso o fato de que, agora, em poucos segundos, clicando com o mouse, um internauta obtenha uma informação que, há poucos anos, exigia semanas e meses de consultas em bibliotecas e com especialistas? Mas também há provas conclusivas de que, quando a memória de uma pessoa deixa de ser exercitada, por contar com o arquivo infinito que um computador põe ao seu alcance, ela embota e se debilita como os músculos que deixam de ser usados”.

E complementa: “Não surpreende, por isso, se alguns fanáticos da internet, como o professor Joe O’Shea, filósofo da Universidade da Flórida, afirma: ‘Sentar-se e ler um livro de cabo a rabo não faz sentido. Não seria um bom uso do meu tempo, e com a internet posso ter todas as informações com mais rapidez. Quando uma pessoa se torna um caçador experimentado na internet, os livros são supérfluos’. O mais atroz desta declaração não é a afirmação final, mas o fato de esse famoso filósofo acreditar que uma pessoa lê livros somente para `informar-se`. Esse é um dos estragos que o vício fanático da telinha pode causar. Daí, a patética confissão da doutora Katherine Hayles, professora de Literatura da Universidade Duke: `Não consigo mais que meus alunos leiam livros inteiros`.

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