O carnaval de 2013 foi uma grata surpresa para os belo-horizontinos: multidões de jovens se aglomeraram em alguns locais da capital mineira para beber, sambar e até desfilar em blocos informais de pedestres.
Uma radical mudança de comportamento, pois Beagá só teve carnaval de fato até os anos 1980, através dos clubes, blocos carnavalescos e desfiles de escolas de samba.
Nas últimas décadas tornou-se uma exportadora de foliões para as cidades históricas de Minas, para o Rio de Janeiro e para as praias do Espírito Santo.
Mas mudanças repentinas de comportamento não ocorrem sem uma boa explicação; a minha é a Lei Seca, a espada que o Congresso pendurou sobre a cabeça do motorista brasileiro.
A mídia ajudou a proliferar o medo, ao comprovar que até os inofensivos bombons de licor, enxaguantes bucais e alguns remédios homeopáticos são capazes de excitar o bafômetro e emitir auto de prisão.
E os foliões que ambicionavam o papel de emigrantes carnavalescos desistiram da estrada e optaram por locais de fácil acesso para metrô e ônibus; táxi, onde tem multidão, só com boa dose de sorte.
Nem assim o centro da cidade ganhou público: a classe média se esconde do povão…
Santa Tereza ficou cheia todos os dias de carnaval e seguiu firmando o prestígio de bairro boêmio.
O espírito festivo prevaleceu na capital, as animosidades não passaram de traços estatísticos.
A sujeira foi a pior consequência, principalmente por causa do odor de urina, inevitável acompanhante da cerveja; em qualquer canto algum rapaz trôpego sacava seu instrumento eliminador de urina para resolver o seu problema, ofendendo moralistas e donos de narizes sensíveis.
Quarenta dias depois – a quaresma, conceito esquecido – a cidade comprovou que a Lei Seca está inibindo as tradicionais fugas dos feriados estendidos.
Em plena Semana Santa, Belo Horizonte estava cheia e na quinta-feira submergiu em um gigantesco engarrafamento.
Engarrafamento-monstro, dia chuvoso e medo do bafômetro: dessa vez não deu samba.