Quando a mídia anunciava a contratação de Hebe Camargo pelo SBT – sugerindo sua recuperação – na verdade ela agonizava

Fiquei surpreendido coma morte da apresentadora Hebe Camargo em São Paulo (29/09/12), aos 83 anos.

Acreditei que o câncer dela estivesse sob controle, influenciado (eu) pelas notícias otimistas e pela divulgação da sua contratação pelo SBT.

Assim que procurei as primeiras informações na internet, observei que sua saúde vinha definhando e estava grave; segundo o oncologista Sérgio Simon, um dos médicos que a acompanhava, “o tumor piorou muito nos últimos três meses. Ela não conseguia mais se alimentar, estava vivendo à base de soro. Há uma semana ficou pior, o rim estava parando”.

Reagi como profissional da comunicação: por que sonegar a verdade ao omitir as informações sobre o agravamento da saúde e anunciar um contrato de trabalho que não poderia ser cumprido?

Mas entendi melhor o alcance da manobra quando li que outro apresentador do SBT, Carlos Alberto de Nóbrega, deixou escapar uma confissão: “talvez vocês não sabiam, mas ela estava sofrendo muito. Achei um gesto muito bonito do Silvio Santos porque sabemos que ela não ia conseguir estrear”.

Aí o ciclo se fechou: apesar da gravidade da doença, Hebe esta lúcida, tinha contato com o mundo, e as notícias sobre o agravamento da sua saúde – cuja extensão provavelmente nem ela sabia – seriam deprimentes para ela.

O anúncio da recontratação pelo SBT foi a grande encenação para lhe dar um último alento, uma última alegria, uma última esperança.

Um ato magnânimo do Señor Abravanel – nome real do Sílvio Santos – que certamente teve um estremecimento com Hebe quando ela se mudou para a Rede TV.

Prevendo a morte, o departamento jurídico da emissora provavelmente preparou um contrato que evitava ônus antecipados mas, caso realmente tenha ocorrido, não merece crítica, seria apenas uma opção empresarial natural. O objetivo maior foi humanístico, o que lhe impinge respeito.

Eu não assistia ao programa da Hebe Camargo, mas isso não tem importância, pois é apenas uma questão de perfil de telespectador: o importante é que ela tinha público e popularidade, portanto era útil à sociedade.

E fez um importante trabalho em sua passagem pela Terra, e pela cultura brasileira.