Há uma ou duas décadas atrás, li na revista Playboy (que sempre apresentou assuntos interessantes, além das…) um artigo que descrevia um formato idealístico para o futebol, com sugestão de novas regras que o autor entendia serem claras e eficientes.
Uma das propostas era acabar com o critério interpretativo do toque de mão na bola: com exceção do goleiro, passaria a ser considerado “falta”, sempre.
Outra proposta — certamente bem mais complexa — era proibir o choque físico, transformando qualquer esbarrão em irregularidade; também passaria a ser classificado como falta.
Menos complexa era a intenção de acabar com a regra dos impedimentos, o que certamente aumentaria o número de gols.
Como acontece com o basquete e o futsal, o critério de duração da partida seria o tempo corrido, neutralizando a artimanha da falsa contusão.
E seguiu-se uma série de outras ideias, as quais nem remotamente me lembro.
Mas, apesar de toda a popularidade do futebol, esta foi a única proposta realmente reformista que já tive a oportunidade de ler, sinal de desinteresse pelo tema.
Mais recentemente, li e ouvi comentários de especialistas com opinião diferente, contrária.
Argumentam que a polêmica é indispensável ao futebol, é sua irmã siamesa, é o atrativo e graça.
Um combustível da paixão.
Partem do pressuposto que aspectos subjetivos e emocionais são parte do comportamento humano, são indissociáveis.
Esta também é minha linha de pensamento: paixões, emoções e confrontos são integrantes do indivíduo e estimuladores do agir.
O que me leva a concordar com a ideia que regras claras podem tornar o futebol mais racional, mas menos atraente.
Polêmicas e confusões são mais excitantes, mais motivadoras.
— Foi falta ou o jogador cavou?
— Foi mão na bola ou bola na mão?
— O atacante estava ou não estava impedido?
— A bola fez curva ou o goleiro falhou?
— Aquele jogador é craque ou perna-de-pau?
Temas como estes prorrogam as emoções de cada jogo por horas ou dias após o apito final do árbitro, criando uma situação improvável de acontecer se houvessem regras claras e definidas.
As polêmicas futebolísticas possuem o mérito de movimentar e agitar as conversas de bares, os churrascos, as reuniões de amigos ou colegas.
Uma garantia de assunto para muita conversa e animação, aliás um assunto farto; e fácil, conhecido e dominado pela maior parte da população.
Um respeitável elo social.
Pode parecer ilógico mas, em seu íntimo, o torcedor prefere que o futebol continue administrado por regras confusas, sujeitas a interpretações conflitantes.
Nem que seja para ganhar um polêmico assunto extra: analisar e criticar a nebulosidade das regras.
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